José: entre a razão e a fé
Na obra “O Sublime Peregrino”, Ramatís, psicografado por Hercílio Maes, oferece um olhar singular sobre a figura de José, pai de Jesus. Através da narrativa, somos convidados a desvendar a complexa teia de emoções e questionamentos que habitavam o interior desse homem íntegro, marcado por uma fé inabalável, mas também por um pragmatismo arraigado.
José era um homem de trabalho, dedicado à sua família e à sua comunidade. Sua vida transcorria em um ritmo austero, moldado pelo suor da labuta e pela devoção aos seus deveres. A espiritualidade, para ele, era algo íntimo, presente em seus gestos e orações silenciosas, mas não necessariamente expressa em visões ou experiências transcendentais.
Diante dos eventos extraordinários que cercavam o nascimento de Jesus, José se viu dividido entre a razão e a fé. De um lado, os sinais celestiais e as profecias que cercavam a figura de seu filho o confrontavam com a possibilidade de uma realidade além do tangível. De outro, sua mente pragmática buscava explicações racionais para os fenômenos que presenciava, receando ser enganado por ilusões ou mistificações.
A cena do nascimento de Jesus é particularmente reveladora da dualidade interior de José. Enquanto Maria, em estado de profunda conexão com o divino, vivenciava a plenitude daquela experiência, José, tomado por uma mescla de temor e admiração, observava tudo à distância. Sua severidade natural o impedia de se entregar completamente à fé, levando-o a questionar a natureza dos eventos que se desenrolavam diante de seus olhos.
Essa postura de José, longe de ser vista como uma falta de fé, demonstra a complexa relação que ele mantinha com a espiritualidade. Sua crença era profunda e inabalável, mas mesclada com uma dose de racionalidade que o impedia de se deixar levar por visões ou experiências subjetivas. Ele precisava de provas tangíveis, de algo que confirmasse a natureza divina de seu filho e a grandiosidade da missão que ele estava destinado a cumprir.
Ao longo da narrativa, Ramatís nos convida a refletir sobre a importância de encontrarmos um equilíbrio entre a fé e a razão. José, em sua jornada interior, nos ensina que a verdadeira fé não se baseia cegamente em dogmas ou crenças pré-concebidas, mas sim na busca incansável pela verdade, mesmo que isso signifique desafiar nossas próprias convicções e questionar o que nos parece óbvio.
A figura de José nos convida a construir nossa própria fé, sólida e autêntica, alicerçada em nossas experiências e reflexões pessoais. Uma fé que não nos impeça de questionar, mas que nos motive a buscar respostas cada vez mais profundas e significativas. Uma fé que nos inspire a viver com integridade, amor e compaixão, seguindo os passos daquele que nos ensinou a amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos.